Os determinantes sociais da saúde (DSS) constituem, hoje, importante objeto de estudo no aperfeiçoamento da educação médica. Discussões sobre a temática têm sido constantes nos espaços acadêmicos em diversos países, entendendo que sua compreensão pode favorecer ações efetivas de cuidado e contribuir para a redução das lacunas das iniquidades em saúde. O objetivo do estudo foi analisar a representação social dos estudantes de medicina sobre os DSS em sua formação. Trata-se de uma pesquisa de natureza qualitativa, estruturada em duas etapas: pesquisa documental e de campo, fundamentadas nos pressupostos da Teoria das Representações Sociais (TRS) de Moscovici. Participaram 35 estudantes da 5ª série da graduação de medicina do ano de 2017 de uma Instituição de Ensino Superior do interior paulista. Os dados foram coletados no período de junho a setembro de 2017, por meio de entrevistas com um roteiro semiestruturado. A partir da contribuição de especialistas da área da formação médica e Saúde Coletiva no instrumento de coleta, a pesquisa constituiu-se de quatro questões orientadoras. A análise dos dados foi realizada por meio do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) e a discussão dos resultados estruturada a partir de 13 Ideias Centrais (IC). Os resultados do estudo revelaram sujeitos coletivos que compreendem os DSS a partir dos conceitos adotados pela OMS, não sobre a inferência do termo DSS, mas a partir de certos conjuntos de necessidades de saúde e estudos da epidemiologia convencional. Também revelou um sujeito coletivo que desconhece o termo DSS, não conseguindo associá-los a nenhum conteúdo vivenciado na formação. A abordagem dos DSS durante a formação médica foi reconhecida nos primeiros anos de formação, mais especificamente durante a vivência nas Unidades Saúde da Família (USF), por meio das atividades de anamnese e visita domiciliar. Nas séries seguintes há apenas uma breve inclusão à epidemiologia, porém, sem correlação aos DSS. Nas atividades acadêmicas não foi identificada a referida abordagem, embora nos cadernos de planejamento educacional das respectivas séries encontrem conteúdos que permitam a exploração de diversos fenômenos das ciências básicas e humanas, inclusive dos DSS. A percepção/identificação dos DSS na prática do cuidado pelos estudantes de medicina revelou-se na relação médico-paciente. E a importância e necessidade de um conteúdo teórico e prático sistematizado acerca dos DSS foi constatada pelos sujeitos coletivos, acreditando
que sua abordagem no cotidiano das práticas profissionais favoreça novas e melhores formas de cuidar, além de propiciar uma formação e, consequentemente, uma prática diferenciada. Deste modo, acredita-se que, a exemplo de diversos países, é possível a inclusão de conteúdos teóricos e práticos sistematizados, inclusive conteúdo da Medicina Social que possa incitar os estudantes a superar a noção de causalidade dos DSS e se aproximar de uma análise das relações dialéticas existentes, tendo em vista uma prática pedagógica de apreensão e, logo, de transformação da realidade.